Muitos domingos foram dias difíceis para mim, muita saudade de casa, domingo era o dia que mais me lembrava o fato de ser uma canceriana sem lar. Lembro-me de ficar no campus nos fins de semana a contra gosto, quando não tinha dinheiro para ir para a casa de minha avó em Jataí. Alguns domingos quando eu sentia um vazio profundo, caminhava vagarosamente pelos gramados entre os prédios da universidade, andava de olhos fechados para sentir o cheiro que vinha da vizinhança. Era um cheiro de ar quente com churrasco e macarronada, ouvia homens gritando em mesas de carteado. Sentia o sol na pele e principalmente o vento. O vento sempre me acalmou, o vento sempre me abraçou.
Agora estou aqui, num domingo diante do computador e à sua frente uma janela voltada para a rua. Minha casa fica numa subida e por isso entra um vento delicioso pela janela. Atrás de mim está meu filho, tão pequeno, já viveu 2/3 de sua vida na pandemia. Está com o celular do pai, deitado em um colchão, sendo distraído para que eu possa trabalhar, ler, ou pelo menos tomar um fôlego. Esta foi mais uma semana como outras que tenho vivido nesse período. Fechada em casa, sonhando em poder ir para uma biblioteca e conseguir pensar direito, fora daqui. Correndo e perdendo o tempo no qual deveria estar desenvolvendo meus planos com tarefas domésticas intermináveis. Acordando cedo, cuidando do bebê, tentando fazer o almoço à tempo de enviá-lo para a escola e ter 4 horas para descansar um pouco e tentar escrever alguma coisa.
Mas agora, exatamente agora, na lista aleatória de músicas que coloquei no meu computador, canções serenas entram pelos meus ouvidos, começa a escurecer e deixo a luz ir embora naturalmente do ambiente onde estou. E o vento, ah o vento! Entra pela janela acariciando meu rosto, sinto passar pelos meus braços, entrar em meus pulmões. Que sensação deliciosa! Acho o vento charmoso, refrescante, acalentador. O vento é das coisas que mais me emociona. A tranquilidade de saber que meu filho está bem atrás de mim, confortável, saudável, limpo, barriga cheia. Minha existência afinal não é só agonia.